Lua caminhava pelo cafezal com os pés descalços sobre a terra úmida. Deu dois passos, olhou para trás e viu Raimundo, o capataz da fazenda recolhendo os grãos espalhados pelo chão.
Ao se aproximar, o homem disse: – Bom dia menina Lua. Não devia estar em casa, preparando o almoço? Perdi a noção das horas, respondeu. O cheiro das folhas me faz sonhar.
Lua continuou subindo pelas ruas da plantação, ouvindo ao fundo a voz do capataz, que dizia estar cansado de rastelar a terra molhada, onde os grãos se misturavam à areia, formando um caldo azedo, sentido à distância.
Nada disso mudou o rumo de Lua. A voz do capataz ao longe, e Lua tentando apagar os sons, que resistiam. Restava o eco de Lua, Lua, repetidas vezes, ditas por Raimundo. E a menina apertava os passos para fugir do som, agora, quase imperceptível.
Era hora de voltar. Olhou para o céu. Por que sempre preciso voltar? Para onde, repetiu Lua. Tenho o almoço para cuidar.
O som foi se aproximando. Raimundo conversava com os pés de café. Lua passou por ele e quando chegou à sede, o som ainda entrava em seus ouvidos. Lua, Lua, hora de almoçar. A voz do capataz a acompanhou. O bate-bate das panelas a distraiu. O capataz entrou na cozinha. Lua tapou os ouvidos, e o mesmo som se espalhava. Lua, Lua, chamava ele, como se não houvesse ninguém para responder.
Por Sofia Mathias