Tag

poema

Lata d’água

Lata d'água, por Sofia Mathias

Lata d’água na cabeça, lá vai Maria,
Vão Marias, Antonias, Chicas, tantas mais.
Lá vai um dia, outro dia, mulher do mundo, carregadora de ilusões.
Marias tantas, na capital, de sol a sol, sem sal.
Marias esquecidas, lembradas pela arte de sonhar, nunca deixar…
Marias sem nomes, roubados, esquecidos, deixados na poeira da estrada.
Marias guerreiras, parideiras, parteiras, felizes, ou quase.
Marias famosas, estampadas nas capas de revistas, largadas no chão.
Marias sagradas, adoradas em altares irmãos.
Marias somente, sem sobrenomes, pretensões
Marias do dia, outras da noite,
Apenas Marias,
Amadas, deixadas, encantadas,
Sempre Marias,
Eternizadas,
Virgens Marias e Marias virgens
Que povoam o espaço sem fim.
Mais uma Maria a cada dia,
Nome abençoado,
Imagem sagrada, sangrando.
Para sempre, apenas Maria.

Por Sofia Mathias

Retrato

Retrato

Helena, Lelê, Lê
Novos sons, novo ser
Exercício de amor
Renascer
Em meio a um caos
Um olhar de esperança
Criança
Que chega
No silêncio das constatações
De que tudo valeu a pena
Sem pena, a passar
O tempo, os fios brancos
Que não escondem a altura do caminho
Também mostram a alegria de repartir
Emoções, filha do filho querido
Saber que a semente brota na terra
Como uma corrente eterna
Atravessa gerações
Deixando marcas de amor
Saudade, cúmplice em ter você,
Helena, minha, nossa Lelê.

Texto inspirado no primeiro aniversário da Lelê.

Por Sofia Mathias

E o vento disse…

O que foi dito tem registro na alma,
Ou se dissipa no ar.
O não dito cria feridas
E abastece o falso ser, ou não ser.
Dito pelo não dito cria imagens à toa, à tona,
Que vestem o que na realidade ainda nem existiu.
Nem sempre se pode dizer o que vem na alma
E o falso dito prevalece.
O que fazer?
Dizer, não dizer?
Dite palavras
Para que elas digam a verdade,
Nada mais que a verdade
E que possam florescer em campos áridos.
Diga o que quiser!
Não escute o eco de suas palavras,
Apenas diga.
O dito está dito,
Volta com o vento,
Ouvinte fiel,
Dono das razões e dos segredos do mundo.

Por Sofia Mathias